Condições climáticas impactam próxima safra do café
A primeira estimativa brasileira de safra do café em 2022, divulgada em janeiro, foi animadora para os cafeicultores: aumento de 16,8% na colheita em relação à safra de 2021, ficando em 55,7 milhões de sacas de 60 quilos, de acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
Apesar de os primeiros números terem sido positivos, novos levantamentos de campo sinalizam que a safra de arábica poderá sofrer uma significativa redução.
A IHARA conversou com Eder Ribeiro dos Santos, engenheiro agrônomo que há mais de 30 anos atua na Cooperativa dos Cafeicultores em Guaxupé Ltda (Cooxupé) e hoje é responsável pela unidade de geoprocessamento da Cooperativa, atuando no monitoramento agrometeorológico das lavouras cafeeiras nas regiões de Minas Gerais e São Paulo, áreas de atuação da Cooxupé.
Segundo Eder, as condições meteorológicas enfrentadas pelos produtores rurais no período de março a outubro de 2021 foram completamente atípicas. Estas condições adversas, temperaturas elevadas, estiagem prolongada e geadas comprometeram não só desenvolvimento das lavouras cafeeiras, mas também o pegamento da florada responsável pela produção de 2022. Esta combinação de fatores, segundo Eder, seguramente, irá afetar negativamente a produção.
Condições climáticas completamente atípicas
“Desde 2014 monitoramos temperatura, distribuição de chuva, déficit hídrico e armazenamento de água no solo na área de atuação da Cooxupé com o objetivo de entender o impacto destas variáveis meteorológicas no desenvolvimento e na produção dos cafeeiros, bem como no seu efeito sobre a ocorrência de pragas e doenças. Podemos dizer que as lavouras cafeeiras foram submetidas a uma combinação de variáveis meteorológicas muito desfavoráveis com consequente impacto negativo na safra de 2022”, afirma Eder.
O engenheiro agrônomo explica que as lavouras cafeeiras entraram em florescimento debilitadas. Além disso, logo após o florescimento, a ocorrência de baixas temperaturas acompanhadas de um longo período chuvoso prejudicou o pegamento da florada. “Foi o mês de outubro mais chuvoso desde 2014. Estamos preocupados porque produtores estão relatando baixo pegamento e, no campo, já é possível constatar que as lavouras estão apresentando carga irregular, rosetas ralas e com uma expectativa de produção bem abaixo do que se previa em outubro”, lamenta.
Peso do fruto também pode ser afetado
A ausência de chuvas desde meados de fevereiro acompanhado de temperaturas elevadas, também traz preocupações com relação à granação. Eder explica que entre janeiro e abril define-se o peso do fruto e é um período de extrema exigência nutricional pelo cafeeiro. “Desta forma, condições meteorológicas adequadas são fundamentais para garantir a boa formação do fruto e assegurar que a planta possa ter disponíveis os nutrientes necessários ao seu desenvolvimento. Vale lembrar que, além do processo de granação, o crescimento dos ramos responsáveis pela produção de 2023, também está ocorrendo”, afirma.
Atenção especial a pragas e doenças
De acordo com o engenheiro agrônomo, a ocorrência de pragas e doenças é mais um desafio encontrado pelos cafeicultores nesta safra, já que elas estão diretamente relacionadas com as condições meteorológicas. “Neste momento observamos uma evolução significativa na pressão por ferrugem-do-cafeeiro. A ferrugem é a principal doença da cultura e, se não for bem controlada/manejada, pode causar intensa desfolha e provocar prejuízos significativos para a próxima safra. Isso é mais um desafio para o produtor. O monitoramento das lavouras e o manejo das pragas e doenças precisam ser assertivos”, afirma o especialista da Cooxupé.
O engenheiro agrônomo é taxativo: para atravessar este momento de baixa produtividade e custos elevados, o produtor deve buscar a excelência na gestão da sua propriedade. O uso racional de defensivos e fertilizantes, seguindo sempre a orientação de um engenheiro agrônomo, o monitoramento de pragas e doenças, além do planejamento das atividades operacionais dentro da propriedade, são estratégias que, mais do que nunca, deverão ser utilizadas para assegurar a sustentabilidade econômica da atividade.
Mas, o que fazer?
Bom, sabemos que a agricultura é um negócio de alto risco, já que é uma indústria a céu aberto que pode ser impactada por diversos fatores impossíveis de serem controlados, como as condições agrometeorológicas.
Se não dá para controlar o regime de chuvas e temperaturas, a tecnologia atual pode ao menos fazer o monitoramento constante dessas variáveis e ajudar o produtor rural a reduzir os impactos negativos.
E é justamente nesse monitoramento que a IHARA, a Cooxupé e a Universidade de Lavras (UFLA) estão trabalhando desde 2017. “Queremos, através desta parceria, desenvolver uma ferramenta que auxilie o produtor e o técnico na tomada de decisão com relação ao manejo, inicialmente, da ferrugem e phoma”, afirma.
O sistema mede a “favorabilidade” de ocorrência de ferrugem-do-cafeeiro e phoma em função das condições meteorológicas e emite um aviso, com 15 dias de antecedência para ferrugem e sete dias para phoma, que as condições estarão propícias ao desenvolvimento das doenças. “O objetivo é que o produtor avalie precocemente se as condições estarão favoráveis à evolução da doença.. De posse desta informação, ele terá tempo para se programar para a realização do tratamento fitossanitário recomendado ou procurar o seu técnico ou a sua cooperativa para prescrever o tratamento necessário”, explica Eder.
A ideia é que a ferramenta, que deve ser lançada em breve, avise o momento adequado para a aplicação de defensivos agrícolas no campo, descalendarizando a operação rural. “O produtor fará a aplicação dos produtos baseado nas condições reais encontradas no campo, o que vai ser muito bom do ponto de vista da sustentabilidade ambiental e também para o bolso desse produtor. Queremos que ele aplique o produto quando for necessário e não em datas pré-fixadas”, afirma o engenheiro agrônomo da Cooxupé.
Atualmente, 17 estações meteorológicas foram instaladas para a realização do projeto SAD (Sistema de Aviso de Doença – Cooxupé), mas até o próximo ano a Cooperativa instalará outras 100 estações meteorológicas no Sul de Minas, Cerrado Mineiro e Vale do Rio Pardo, em São Paulo. Tudo isso para consolidar uma extensa rede de monitoramento meteorológico e assegurar maior assertividade dos modelos de predição de ferrugem-do-cafeeiro e phoma.
“Teremos a cobertura de uma área de 880 mil hectares. Isso é muito significativo, principalmente, se levarmos em consideração que a área ocupada por café arábica no Brasil é de 1,8 milhões de hectares. Nós só temos que agradecer à IHARA pela iniciativa em aceitar o desafio em desenvolver, juntamente com a Cooxupé e a UFLA, um sistema de predição que mostrará aos nossos clientes, do mundo todo, que a aplicação de defensivos é feita de modo responsável e sustentável, baseada em um modelo matemático robusto e não aplicações baseadas em intervalos pré-determinados”, comemora.
Viu só como novas tecnologias são grandes aliadas dos produtores rurais e como a IHARA está atenta para levar o melhor em tecnologia de produção para os campos brasileiros? Acompanhe o nosso blog e fique por dentro das novidades em tecnologia e inovação em manejo!
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